Hugo Santos
Hugo Santos nasceu em Campo Maior, Alto Alentejo. Cursou o Magistério Primário em Évora, em 1972. Impedido de exercer a docência, empregou-se num laboratório de Lisboa, como delegado de informação médica, onde permaneceu durante doze anos.
Solicitou o reingresso na carreira docente, sendo colocado em 1986, na Escola de Santo Amaro, Alentejo.1
Vim do sul, dum lugar onde os frutos e as mãos
duplamente se conhecem.
Touxe comigo um livro jamais lido,
uma harmónica de silêncios,
uma vara entrançada de silêncios,
uma vara entrançada de vime e aloendro.
Penso que não procurava o velo d'ouro
de estranhas memórias omitidas.
Vinha simplesmente, como o fogo e as águas,
em busca do território mais sagrado dos afetos.
Esperasvas-me, tu, do outro lado da colina.
"Vem", disseste;
e nos teus olhos brilhava
a cor púrpura das azáleas do caminho.
Iluminado pelo sol de estio,
o teu corpo confundia-se com aterra quente do vale
Decorámos as grandes verdades dos rios
que corriam pelo coração da casa.
Mas que eram as grandes verdades?, perguntámo-nos.
De mãos dadas atravessámos a planície.
Cheirava a eucalipto e cedro, lembro.
As gaivotas voavam alto,
embebedadas pela claridade ténue do poente.
"Esta é a última luz do dia" recordaste.
E, sobre mim dobrada, cavalgaste longamente,
como se tivesses pressa de chegar a esse profundo lugar da terra onde (sabíamos)
as águas e as pedras vertiam seu sémen
sobre o ventre da noite que esperava.
