sábado, 16 de abril de 2011

História da Fragata D. Fernando II e Glória

História                        A Fragata amarrada no Tejo (antes do incêndio).

A Fragata "D.Fernando II e Glória", o último grande navio à vela da Marinha Portuguesa e também a última "Nau" a fazer a chamada "Carreira da Índia" – verdadeira linha militar regular que, desde o século XVI e durante mais de 3 séculos, fez a ligação entre Portugal e aquela antiga colónia – foi o último grande navio que os estaleiros do antigo Arsenal Real de Marinha de Damão construíram para a nossa Marinha.

A Fragata recebeu o nome de "D.Fernando II e Glória", não só em homenagem a D.Fernando Saxe Coburgo Gota, marido da Rainha D.Maria II, mas também por ter sido entregue à protecção de Nossa Senhora da Glória, de especial devoção entre os goeses.

O navio embora construído pelos planos duma fragata de 50 peças, foi de início preparado para receber 60 bocas de fogo, tendo em 1863 / 65 sido transformado para receber só 50, 22 no convés e 28 na bateria. A lotação do navio variava consoante a missão a desempenhar, indo do mínimo de 145 homens na viagem inaugural ao máximo de 379 numa viagem de representação.

A Fragata tinha boas qualidades náuticas e de habitabilidade, designadamente no que se refere a desafogo das instalações, aspecto este de suma importância numa época em que ainda se faziam viagens, sem escala, de 3 meses, com 650 pessoas a bordo, incluindo passageiros.

A viagem inaugural, de Goa para Lisboa, teve lugar em 1845, com largada em 2 de Fevereiro e chegada ao Tejo, em 4 de Julho. Desde então, foi utilizada em missões de vários tipos até Setembro de 1865, data em que substituiu a Nau Vasco da Gama, como Escola de Artilharia, tendo ainda, em 1878, efectuado uma viagem de instrução de Guarda-Marinhas aos Açores, que foi a sua última missão no mar, onde teve a oportunidade de salvar a tripulação da barca americana "Laurence Boston" que se incendiara.

Durante os 33 anos em que navegou, percorrendo cerca de 100 mil milhas, correspondentes a quase 5 voltas ao Mundo, a "D.Fernando", como era conhecida, provou ser um navio resistente e de grande utilidade, tendo efectuado numerosas viagens à Índia, a Moçambique e a Angola para levar àqueles antigos territórios portugueses unidades militares do Exército e da Marinha ou colonos e degredados, estes últimos normalmente acompanhados de familiares. Chegou até a levar emigrados políticos espanhóis para os Açores.

De entre as missões que lhe foram confiadas, destacam-se a participação como navio-chefe de uma força naval na ocupação de Ambriz, em Angola, que em 1855 se revoltara por instigação da Inglaterra, e, ainda, a colaboração na colonização de Huíla em que, como navio de guerra, teve a insólita e curiosa missão de transportar ovelhas, cavalos e éguas do Cabo da Boa Esperança para Moçamedes (Angola), numa real missão de serviço público. Colaborou, ainda, com o grande sertanejo António Silva Porto, transportando, em 1855, os seus 13 pombeiros da ilha de Moçambique para Benguela, depois destes terem completado a travessia de África, de Benguela à costa de Moçambique.

Em 1889 sofreu profundas alterações para melhor servir como Escola de Artilharia Naval, substituindo-se a antiga e airosa mastreação por três deselegantes mastros inteiriços, com vergas de sinais e construindo-se dois redutos a cada bordo para colocação de peças de artilharia modernas, para instrução, utilização que cessou em 1938.

Em 1940, não estando já em condições de ser utilizada pela Marinha, iniciou uma nova fase da sua vida, passando a servir como sede da "Obra Social da Fragata D.Fernando", criada para recolher rapazes oriundos de famílias de fracos recursos económicos, que ali recebiam instrução escolar e treino de marinharia, até que, em 1963, um violento incêndio a destruiu em grande parte.











Exército Português no Afeganistão

Em 09 de Abril de 2011 procedeu-se à entrega de material escolar, angariado em Portugal, a cerca de 1.000 alunos da escola de Pol-e-Charki (PeC).

Nesta actividade tomaram parte alunos, professores e direcção da escola, militares da Garrison Support Unit (GSU) de PeC do Exército Afegão, militares da 6th Operational Mentor and Liaison Team – Garrison (6ª OMLT-G) e do Módulo de Apoio do Contingente Nacional (CN) para além de alguns dos seus intérpretes.

Este evento é o culminar de uma dinâmica e profícua actividade desenvolvida em Portugal durante o final de 2010 e início de 2011 por diversas Escolas Secundárias da Covilhã, do Colégio de Quiaios – Figueira da Foz, do Grupo 66 da Associação de Escuteiros de Benavente e da Capelania do Comando do Corpo de Fuzileiros, os quais foram responsáveis por uma forte campanha de angariação de material escolar junto dos seus alunos e militares, e das respectivas famílias e amigos, no sentido de reunirem o maior número possível de material a enviar posteriormente para o Teatro de Operações (TO) do Afeganistão.

Após a entrega do material e já na Jalalabad road, foi reconfortante e enriquecedor observar o contentamento das crianças acompanhadas pelos seus pais. Ao reconhecerem as nossas viaturas e a bandeira de Portugal no mastro das antenas, exteriorizaram um sorriso e um aceno na nossa direcção, ao mesmo tempo que esboçavam uma expressão de reconhecimento e de amizade, ou tão simplesmente diziam: tashakur Portagal (obrigado Portugal).

Fonte: Exército Português

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O BATALHÃO PERDIDO

O Batalhão Perdido


A brava resistência de 554 americanos, cercados pelos alemães por seis dias na Frente Ocidental

Pelo outono de 1918 os Exércitos Aliados tinham começado a avançar regularmente em toda a Frente Ocidental. Todos, menos um, estavam exauridos por quatro anos de massacres contínuos e estavam bem próximos dos limites de seus recursos de potencial humano, suas fileiras exauridas sendo preenchidas com homens mais velhos e jovens conscritos. Os franceses, levados além do possível, tinham se amotinado no ano anterior e os ingleses, enojados pelos banhos de sangue do Somme e do saliente de Ypres, tinham adotado uma atitude profundamente cínica para com seus líderes. Finalmente, a vitória parecia estar a seu alcance e isso os tangeu a fazer um esforço final, decisivo, que poria um fim a sua miséria coletiva.

A exceção era o recentemente formado Primeiro Exército dos Estados Unidos, do General John J. Pershing. O que tornava os americanos diferentes era seu físico e, acima de tudo, seu entusiasmo. As colunas de americanos, compostas inteiramente de voluntários saudáveis, no primor da idade militar, marchavam decididamente para a frente, duma forma que não era vista desde aqueles dias impetuosos, idealistas, de agosto de 1914.

A força de pré-guerra do exército americano era minúscula e, desde a declaração de guerra deles, tinha se expandido em tal velocidade que seu crescimento tinha ultrapassado o seu programa de aquisição de equipamentos. Mesmo assim, os ingleses e franceses estavam tão ansiosos para que as formações americanas entrassem na lide que tinham completado as carências de boa vontade, suprindo tanques, metralhadoras, capacetes de aço e muitos outros itens.

Em 26 de setembro o Primeiro Exército Norte-Americano, com o Quarto Exército Francês na sua esquerda, começou o que se tornou conhecida como a ofensiva do Mosa-Argone. A tarefa dos americanos era limpar a floresta de Argone, uma área com muitas árvores, rompida por íngremes espinhaços e desfiladeiros profundas. Neste período, o exército alemão, apesar de desiludido pela falha das ofensivas de primavera em mtrazer-lhe a prometida vitória e desmoralizado por sucessivas derrotas, tinha recuperado algum de seu espírito de luta e estava determinado a manter o inimigo fora da pátria. Em Argone, estava mantendo posições adaptadas de forma ideal para a defesa, empregando ninhos de metralhadoras com campos de fogo cruzados, junto com alambrados de arame farpado e telas de galinheiros habilmente arranjadas, de forma a criar campos de fogo no mato espesso, que por si reduziria a visibilidade do atacante a uns poucos metros. Depois de uns poucos dias deste tipo de difícil luta em floresta, na qual o contato com as unidades vizinhas era praticamente impossível, Pershing deu ordens para que o avanço prosseguisse “sem preocupar-se com as perdas e com as condições expostas dos flancos”. Como um resultado direto dessas instruções, surgiu uma situação da qual cresceu uma das mais notáveis histórias da guerra, a lenda do Batalhão Perdido, apesar das tropas envolvidas saberem exatamente onde estavam e que elas, em um sentido lato, não serem de forma alguma um batalhão.

Na extrema esquerda da linha de avanço americana estava a 77ª Divisão, do General de Divisão Robert Alexander, recrutada de novaiorquinos de diversas origens nacionais [Guardas Nacionais]. Cedo pela manhã de 2 de outubro, Alexander deu ordens para um avanço geral ao longo da frente divisional, marcando como objetivo a estrada La Viergette-Moulin de Charlevaux, que corria de leste a oeste. Seguindo-se a uma barragem de artilharia, a divisão avançou com uma frente de duas brigadas, com a 153ª Brigada na direita e a 154ª Brigada na esquerda. A primeira logo teve seu movimento interrompido por pesado fogo vindo de terreno elevado a sua frente, as a 154ª Brigada progrediu de forma regular, lentamente empurrando o inimigo para trás.

Liderando o avanço da brigada estava o 1/308º [1º Batalhão do 308º Regimento], comandando pelo Major Charles Whittlesey, um alto e sério advogado de Wall Street, usando óculos, conhecido por seus homens como Bird Legs [Pernalonga]. Um profundo desfiladeiro, com encostas em precipício, cheia de arbustos, corria em diagonal ao longo da linha de avanço do batalhão, dividindo-o, com as Companhias A, B e C à direita do obstáculo e a Companhia D à esquerda. A seguir vinha o 2/308º, comandado pelo capitão G. McMurtry, outro advogado, mas um que tinha servido com os Rough Riders de Theodore Roosevelt no morro de San Juan, durante a Guerra Hispano-Americana. Acompanhando Whittlesey, McMurtry tinha suas Companhias E, G e H na direita do desfiladeiro e a Companhia F na esquerda. Incorporados a ambos batalhões, estavam destacamentos das Companhias C e D do 306º Batalhão de Metralhadoras.

O 308º de infantaria já tinha estado em ação durante os seis dias precedentes e ambos, Whittlesey e McMurtry estavam operando com bem menos de metade de seu efetivo regular. Enquanto combatiam no avanço, sofreram mais 90 baixas, mas capturaram 30 prisioneiros e três metralhadoras.

“Ao alcançar o objetivo”, escreveu Alexander, “uma posição para passar a noite foi tomada. Esta posição estava a cerca de quinhentos metros a leste do Moulin de Charlevaux, em um barranco íngreme que desce da estrada até o fundo do desfiladeiro. As seções de metralhadoras foram colocadas nos flancos da linha e o flanco esquerdo foi recuado um pouco, tendo em vista dar segurança ao que era visto como o lado mais perigoso. Os homens, naturalmente, cavaram abrigos individuais e prepararam-se para defender suas posições, como ordenado”.

Os dois comandantes de batalhão tinham cerca de 550 homens com eles, mantendo uma área oval de cerca de 320 metros de comprimento, por 65 de profundidade. Desta, uma série de postos de estafetas foi organizada, para levar mensagens de volta para as linhas americanas. Ambos os comandantes de batalhão estavam preocupados com as Companhias D e F, que estavam fora de contato e ainda do lado errado do desfiladeiro. Naquele momento, nenhum dos dois achava que passavam por qualquer perigo imediato e ambos acreditavam que o avanço americano os iria alcançar na manhã seguinte.

Na verdade, seu avanço tinha sido o único bem sucedido ao longo de toda a frente do corpo de exército e, a sua esquerda, os franceses também tinham falhado em conquistar qualquer terreno. Mais ainda, depois de escurecer, os alemães começaram a se infiltrar de volta na linha de trincheiras que os americanos tinham ultrapassado, dispersando os postos de estafetas e reocupando-a em força. Enquanto isso, Alexander, ciente da brecha que tinha sido aberta entre o seu flanco esquerdo e os franceses, ordenou que dois batalhões, o 3/307º e o 3/308º, se voltassem para a esquerda e estabelecessem uma linha entre eles e Whittlesey. A manobra, feita depois de escurecer, na confusa paisagem da floresta, com contatos intermitentes com o inimigo, somente resultou em trapalhadas. O alvorecer de 3 de outubro encontrou ambos os batalhões dispersos e no lugar errado mas, por volta das 07:00 hs a Companhia K do capitão Nelson M. Holderman, com 82 homens, conseguiu estabelecer contato com o perímetro de Whittlesey.

Whittlesey já tinha enviado a Companhia E, comandada pelo tenente Karl Wilhelm, para contatar as Companhias D e F e trazê-las para o perímetro. Fogo pesado logo mostrou que Wilhelm tinha encontrado problemas. Pouco depois, o tenente Lenke chegou de volta com somente dezenove homens, para relatar que eles tinham sido emboscados e que os postos de estafetas tinham sumido; Whilhelm, com mais dezoito sobreviventes, conseguiu cruzar o desfiladeiro e voltar a segurança.

Agora era evidente para Whittlesey, McMurtry e Holderman que eles estavam isolados. A maioria de seus homens tinham entrado em ação com rações para somente dois dias, muitas das quais já tinham sido consumidas. A situação de munição também deixava a desejar. Com a permissão de Whittlesey, McMurty circulou a seguinte nota entre os comandantes de Companhia: “nossa missão é manter esta posição custe o que custar. Sem retiradas. Faça com que todos os homens sob o seu comando entendam isso”.

A seguir, Whittlesey chamou o soldado Omer Richards, que se apresentou com sua cesta de vime contendo oito pombos-correio, alguns dos 600 supridos por criadores ingleses ao exército norte-americano. Whittlesey rabiscou algumas notas para Alexander, dando sua posição aproximada e pedindo munição, comida e apoio. Dois pássaros foram então soltos depois que as mensagens foram inseridas em tubos metálicos nas suas pernas, e alcançaram o pombal divisional em segurança.

Alexander já tinha tentado fazer suas brigadas se moverem de novo na madrugada, mas uma grossa neblina de outono pairava entre as árvores e tornava qualquer forma de controle, sem falar de orientação, impossível. Como um comandante de companhia lembrou-se, “me achei com dois estafetas, perdido em um mundo cego de alvura e ruído, tateando por sobre algo que parecia ser a superfície da lua. Literalmente não se podia ver dois metros adiante e, por todos os lados, o terreno surgia em pináculos nus e cristas ou descia para abismos meio cheios com enferrujados obstáculos de arame”. O ataque parou, foi repetido durante a tarde e parou de novo, desta vez com pesadas baixas.

Entretanto, os alemães tinham lançado um cinturão ao redor da posição de Whittlesey, a cerca de 200 metros além de seu perímetro. Os defensores começaram a sofrer fogo de atiradores de escol, metralhadoras, morteiros e artilharia, mas conseguiram repelir um ataque. Neste momento, cerca de um terço deles tinha sido morto ou ferido e os parcos suprimentos médicos tinham acabado. Whittlesey enviou um terceiro pombo, pedindo que munição e comida fossem jogados por aviões. Depois de anoitecer ele percorreu suas companhias, reassegurando seus feridos e encorajando o resto. Depois disso, a opinião geral das tropas era que o Pernalonga não era tão ruim assim; de fato, era bem legal.

Durante a tarde, Alexander foi chamado ao quartel-general do corpo, do Tenente-General Hunter Liggert, onde a próxima fase da batalha seria planejada. Foi ali, evidentemente, que a imprensa soube que um razoável número de tropas americanas estavam presas atrás da linhas inimigas e dentro de mais ou menos um dia os relatos a respeito de um Batalhão Perdido começaram a circular entre os jornais americanos mais populares. Acredita-se que a frase tenha se originado em um telegrama de um editor de jornal, pedindo maiores informações. (...) Para o público parecia que se Whittlesey fosse forçado a se render, o inimigo poderia dizer que seria uma vitória, e isso não era politicamente aceitável. Pressão foi feita diretamente sobre Pershing, que por sua vez pessoalmente incitou Alexander a fazer uma “vigorosa tentativa” de romper as linhas.

Em 4 de outubro, o Primeiro Exército norte-americano fez um bom progresso em todos os lados, menos no seu flanco esquerdo. Dentro do bolsão, metade dos homens de Whittlesey tinham sido mortos ou feridos. McMurtry, atingido no joelho por estilhaços de artilharia, ainda era capaz de mancar pelas linhas, assim como Holderman, que tinha sido ferido três vezes. A visão de enfermeiros removendo bandagens daqueles que tinham morrido e usando-as de novo nas baixas mais recentes, levou Whittlesey a despachar diversos pombos a mais, com mensagem: “a situação esta reduzindo nossas forças rapidamente. Os homens sofrem de fome e exposição aos elementos e os feridos estão em uma condição muito ruim. Apoio não pode ser enviado imediatamente?” Hora seguia-se a hora sem sinais de ajuda, pontuadas por volteios regulares de granadas de mão explodindo entre as trincheiras americanas, jogadas pelo inimigo nas encostas acima.

Preocupado com o fracasso de seu ataque da manhã, Alexander ordenou que sua artilharia divisionária bombardeasse o inimigo cercando o bolsão. Durante a tarde, um avião sobrevoou diretamente os americanos presos e soltou um sinal luminoso. Em minutos o número de granadas explodindo dentro do perímetro tinha aumentado de forma dramática, e a fonte da maioria delas era claramente americana ou francesa.

Enquanto as baixas continuavam a aumentar, Whittlesey escreveu em urgente frenesi: “Nossa própria artilharia está lançando barragens diretamente sobre nós! Pelo amor de Deus, parem!” Richards tirou outro pombo de sua cesta, somente para ver ele fugir. Restava só um pombo, um macho chamado de Cher Ami. Richards prendeu a cápsula a sua perna e o soltou, mas depois de completar seu círculo de orientação, pousou em um galho e começou a espenicar. Paus e pedras não conseguiram desalojá-lo. Finalmente, depois que um enfurecido Richards subiu na árvore e sacudiu o galho, ele voou e foi para seu pombal. Os alemães, bem cientes da relevância dos pombos, abriram fogo contra ele. Uma bala removeu parte de sua perna, fez um furo através de seu tórax e cegou um olho. Ele cambaleou e começou a perder altitude. Então se recuperou e foi adiante, desaparecendo bem além do inimigo para o sul. Pouco depois, a chuva de granadas americanas cessou abruptamente. Este incidente de “fogo amigo” matou ou feriou mais 80 dos homens de Whittlesey; se a mensagem não tivesse chegado e o bombardeio continuasse, parece provável que o bolsão teria sido eliminado. Do jeito que foi, Cher Ami tornou-se um herói nacional. Suas feridas foram tratadas e agora em honrada aposentadoria, foi levado de volta para os Estados Unidos, onde morreu um ano depois. Preservado e exposto de forma adequada, ele ainda pode ser visto no museu Smithsonian.

Um ataque foi lançado contra o bolsão tão logo a artilharia americana cessou os disparos. Foi repelido e quando estava escuro o suficiente, voluntários, ignorando o risco de atiradores de escol, fizeram a perigosa jornada até as águas barrentas do riacho no funda do desfiladeiro, para apanhar água. Por volta das 21:00 hs, fachos de iluminação foram lançados ao longo de todo o perímetro, mas granadas caíram entre as trincheiras e uma voz clamou para que os americanos se rendessem. À exigência, raivosamente rejeitada, seguiu-se um outro ataque, que também foi repelido.

Em 5 de outubro uma tentativa foi feita de abastecer o bolsão pelo ar. O problema era que uma combinação de neblina, fumaça e árvores tornava muito difícil aos pilotos identificar a posição de cima. Um avião se perdeu e os poucos e pequenos pacotes que foram jogados tentadoramente caíram além do perímetro. A atividade inimiga durante o dia se resumiu ao lançamento morro abaixo de granadas, agora amarradas em feixes, para terem maior efeito e fogo de atiradores de escol. O som de combates pesados para o oeste indicava que os franceses estavam avançando e a esperança de salvação começou a aumentar, somente para serem frustradas quando os alemães recuperaram suas perdas ao fazerem um pronto contra-ataque. Uma tentativa simultânea de rompimento, por parte de um dos regimentos da 77ª Divisão, foi repelida e Alexander, rapidamente perdendo paciência, demitiu o oficial comandante da unidade em questão.

O dia seguinte também se passou sem um grande ataque contra o bolsão e começou a parecer que o inimigo tinha decidido subjugar os americanos pela fome. A fome, de fato, tinha se tornado tão intensa que muitos homens tinham começado a mastigar folhas caídas e a casca de árvores. Pouca ou nenhuma água podia ser dada aos feridos gemendo, que agora espalhavam-se por todos os lados. Naquela noite, entretanto, Whittlesey, sem nenhum outro meio de comunicação com Alexander, enviou um oficial e dois homens com um relatório de situação. Por uma combinação de dissimulação e boa pontaria eles passaram, levando com eles detalhes sobre brechas nas defesas alemães, e esta informação sem preço foi usada no planejamento do ataque do dia seguinte.

O dia 7 de outubro quase viu o bolsão ser conquistado. Assim que a alvorada surgiu, as dores da fome se tornaram tão intensas para nove homens da Companhia H, que se aventuraram para recuperar um dos pacotes de ração jogados pelos aviões. Os alemães estavam justo esperando uma tentativa dessas e os emboscaram, matando cinco e capturando o resto. Os sobreviventes se acharam face a um tenente que falava inglês, que tinha passado seis anos nos Estados Unidos como representante de uma companhia alemã de tungstênio. Ele rabiscou uma nota para Whittlesey, na qual explicou que o portador, soldado Lowell R. Hollingshead, tinha se recusado a responder as perguntas de seu interrogador e estava agindo forçado, continuando:

“Seria bem inútil resistir ainda mais, em vista das condições atuais. O sofrimento de seus feridos pode ser ouvido aqui nas linhas alemães e apelamos para seus sentimentos de humanidade para parar. Uma bandeira branca erguida por um de seus homens será suficiente para nos informar que você concorda com essas condições”.

Whittlesey discutiu a nota com McMurtry e Holderman. McMurtry estava com uma bala alojada no seu ombro e seu joelho estava infeccionado, inchado até o tamanho de uma bola de futebol, de forma que ele só podia se mover com dificuldade, apoiado em um galho grosso. Holderman tinha sofrido quatro ferimentos, mas ainda podia se mover, usando dois fuzis como muletas. Os três concordaram que nenhuma resposta era necessária e Whittlesey deu instruções para que os painéis brancos para reconhecimento aéreo fossem removidos, para que não pudessem ser interpretados pelo inimigo como um sinal de rendição. Quando a informação começou a circular pelo perímetro que uma exigência de rendição tinha sido feita, isso resultou no disparo de uma barragem de obscenidades contra as linhas alemães.

Tendo recebido sua resposta, os alemães, à tarde, lançaram um grande ataque, liderado por lança chamas. Uns poucos homens, aterrorizados e no final de seus recursos, quebraram e fugiram ante essas terríveis armas, somente para serem parados por Whittlesey e atirados de volta às linhas. Duas das metralhadoras Hotchkiss foram perdidas temporariamente, mas uma terceira matou os operadores de lança-chamas e o ânimo do ataque perdeu-se Holderman, apoiado em pé em suas muletas temporárias ao lado do atirador da metralhadora, disparava com sua pistola automática Colt .45, abatendo seu quinto oponente justo quando recebeu seu quinto ferimento.

Quando os atacantes desapareciam os sons de um renovado combate vieram das árvores entre o bolsão e a linha de frente americana, mas desta vez foi se aproximando cada vez mais. Logo se tornou claro que os alemães estavam recuando para o norte, não só porque sua linha estava sendo penetrada pelo renovado ataque de Alexander, mas também porque avanços em outros locais no setor americano os tinham flanqueado, ameançando-os de serem, por sua vez, cercados. Por volta das 19:00 hs, justo quando a última luz estava desaparecendo, uma patrulha do 307º de infantaria, liderada pelo tenente Richard Tillman, alcançou o bolsão sem encontrar qualquer resistência. Mais e mais homens do regimento foram chegando, de bom grado distribuindo suas próprias rações aos esfomeados sobreviventes enquanto os enfermeiros faziam o que podiam pelos feridos deitados nas trincheiras e crateras de granadas em todos os lados. Pela primeira vez desde que tinha chegado, os homens de Whittlesey aproveitaram uma noite de descanso tranqüila.

Alexander caminhou até a posição cedo na manhã seguinte e encontrou Whittlesey, macilento e abatido, ainda cuidando do bem estar de seus feridos. O encontro entre os dois foi breve, formal, mas não sem cordialidade – uma troca de continências, um apertar de mãos e um quieto “Como está você”. Alexander estava claramente espantado ao inspecionar o cemitério que tinha se transformado a posição do Batalhão Perdido e Whittlesey estava muito exausto para querer conversar. Pouco depois, ele liderou para fora os seus 194 homens ilesos remanescentes, deixando para trás 107 mortos e 190 casos que necessitavam de evacuação por maqueiros. De 63 homens, não havia traços; ou foram despedaçados, eram prisioneiros nas mãos do inimigo, ou vagavam em algum lugar nas matas, suas mentes levadas além dos limites da resistência.

Se o Batalhão Perdido tivesse sido derrotado ou forçado a se render, sem dúvida teria havido um inquérito e a probabilidade é que durante as recriminações subseqüentes Whittlesey tivesse sido transformado em um bode expiatório. (...) Do jeito que foi, o exército tinha recebido um exemplo clássico de liderança e obstinada determinação e a sua reputação elevou-se a grandes alturas. Tendo consultado Liggett, Alexander informou que Whittlesey tinha sido promovido à tenente-coronel, McMurtry a major e que ambos tinham recebido a medalha de honra do congresso, assim como Holderman.

Fonte deste artigo: Bryan Perret. Against All Odds! More Dramatic ‘Last Stand’ Actions



quinta-feira, 14 de abril de 2011

10 RAZÕES PARA PRATICAR JUDO

Quais os objetivos a alcançar na prática do Judo?

Por que os pais devem inscrever os seus filhos?

10 Razões para Praticar Judo

Sabendo que o Judo é uma prática desportiva com um carácter formativo bem vincado, que o Judo contribui para o desenvolvimento social e emocional dos jovens, visto a sua prática estar recheada de importantes valores morais, apresentamos 10 fortes razões para iniciar a prática do Judo:

1- Os jovens no Judo aprendem a relacionarem-se entre si, adquirindo atitudes de solidariedade, colaboração e tolerância, cumprindo e fazendo respeitar os princípios e valores subjacentes da ética e verdade desportiva. O respeito intransigente da integridade física do opositor/companheiro está adjacente, e revela-se como prioridade nesta modalidade.

2- O judoca, através da prática, aprende a ser disciplinado, a confiar em si próprio, a adquirir auto-controlo e auto-estima, a adaptar-se a novas situações e dificuldades (autonomia), a cooperar, a ceder e a resistir, mas também a ensinar (os principiantes e os menos dotados), a realçar e a valorizar os progressos, tal como o esforço pessoal, a encarar com modéstia as "vitórias" e a reflectir sobre os momentos menos bons.

3- Com a prática do Judo desenvolvem-se as capacidades físicas (condicionais e coordenativas). A força, flexibilidade, coordenação e destreza, associadas à resistência e velocidade, contribuem decisivamente, a par da aquisição progressiva das competências técnicas, para o desenvolvimento psicomotor do jovem e para o êxito desportivo desta modalidade.

4- No Judo promove-se, de forma multilateral, todos os segmentos corporais, implicando, entre outros, o fortalecimento equilibrado da musculatura postural, o desenvolvimento do sentido de equilíbrio dinâmico e do desequilíbrio controlado.

5- A prática do Judo promove a definição da lateralidade em jovens com hesitações na mesma (sinal de imaturidade psicomotora), abrindo o caminho para uma especialização hemisférica das aferências sensitivo-sensoriais, possibilitando o desenvolvimento da motricidade fina (essencial nas pegas). Esta, quando solicitada, exige um bom controlo respiratório. O jovem aprende a coordenar os movimentos tóraco-abdominais, a solicitar a respiração nasal e bucal, de forma coordenada e eficiente.

6- O praticante de Judo aprende a superar situações de insegurança e de medo do contacto físico, inatas ou decorrentes de desvantagens temporárias relativamente ao seu opositor/companheiro. Essas situações, características dos desportos de combate, devem ser entendidas de forma positiva e salutar, já que permite a aquisição e reforço dos sentimentos de auto-confiança e auto-estima.

7- Com a prática do Judo promove-se, junto das crianças e jovens, a aquisição de hábitos de higiene (ex: higiene pessoal e no local de prática e com o equipamento) e aprende-se a valorizar a actividade física desportiva como fonte de prazer e meio de prevenção da doença, associada ao bem-estar e à melhoria da qualidade de vida.

8- O Judo é também uma excelente actividade para os mais introvertidos, pela estreita relação social que se verifica entre os praticantes, independentemente das suas competências e tempo de prática (todos cooperam, todos interagem, participam e contribuem para o êxito individual e grupal nas tarefas).

9- Paradoxalmente, o Judo é indicado também para os mais agressivos, visto funcionar como um excelente "escape" das tensões acumuladas e rebeldia dos jovens. Contrariamente aos outros desportos de combate, o Judo não promove a agressividade mas canaliza-a para a combatividade leal.

10- A prática desta modalidade, em termos cognitivos, favorece a atenção, concentração, reflexão mental e a criatividade das crianças e jovens, capacidades necessárias à aquisição das habilidades técnicas e da construção da estrutura táctica, indispensáveis para a evolução de qualquer judoca assim como para a realização de outras tarefas diárias.


terça-feira, 12 de abril de 2011

O Mestre Bastos Nunes

Bastos Nunes


Num exemplar artigo do Correio da Manha, em que mostraram a verdadeira arte do Judo Nacional, onde sentem-se as tradições e a evolução do Judo português, o empenho e determinação de um bom atleta e a inteorização dos valores do Judo.

A acção passa-se na aula das sete da manhã no Judo Clube de Portugal. O ginásio tem numa das paredes laterais espaldares e, na do fundo, janelas por onde entra uma luz que ao longo da próxima hora se intensifica. O chão está preenchido por colchões e, entre os golpes de judo, ouvem-se sucessivas projecções de corpos contra eles, antecedidas por gritos, másculos, da aplicação da força do adversário. Não seria a destreza de um homem qualquer de 73 anos que impressionaria.

Vestido com um judogi branco e cinto vermelho e branco, o mestre Bastos Nunes impõe o respeito de um 8º Dan – um dos dois praticantes com o mais alto grau em Portugal. Ensina a técnica a uma vintena de homens – o mais novo terá 45 anos e está no grupo há mais de vinte, apesar de ter sido dos últimos que se juntou. E se foi aqui – neste cenário de acção – que começou a vida do mestre, aqui prossegue mais de 50 anos depois.

“No fundo, eu fui professor de todos os judocas portugueses. Se não foram directamente meus alunos, foram-no indirectamente. Todos têm uma quota-parte do mestre Bastos Nunes e do mestre Kobayashi [que é japonês]. Eu sou o mais antigo, por isso fui professor dos professores dos judocas mais novos, ou até professor dos professores dos professores” – conta, orgulhoso, o mestre septuagenário. Mas pode também orgulhar-se de ter treinado até a alta finança portuguesa. Fernando Ulrich (presidente do BPI), Miguel Horta e Costa (presidente da Fundação Luso Brasileira e ex-CEO da PT), José Manuel Ferreira Neto (chairman do BIC) e João Salgueiro (presidente da Associação Portuguesa de Bancos).

O BOM DESPORTISTA

Filho de um proprietário de uma grande marcenaria em Sintra, que trabalhava também para a construção civil, José Manuel Bastos Nunes (nascido nesta bonita vila, no dia de N. Sra. de Fátima, em 1937) teve sempre dinheiro para praticar todos os desportos. O boxe foi o primeiro, de eleição, sob a orientação de Blarmino Fragoso. Até que, em Agosto de 1958, chegou a Portugal, para uma demonstração de judo, o mestre Ishiro Abe, que, com ele, trazia Kiyoshi Kobayashi. Bastos Nunes praticava judo há quatro anos e, em 58, quando estava na tropa, até fez a primeira demonstração desta modalidade nas Forças Armadas, no dia do juramento de bandeira. Mas foi a presença de Kobayashi, nascido em Gumm-Ken, no Japão, nove anos mais velho do que ele, que lhe causou profunda paixão pelo judo.

Nesse mesmo ano viria a ser criado o Judo Clube de Portugal, que contratou Kobayashi para ficar a ensinar no nosso País. “Eu já era cinto castanho e, em 59, passei para preto. Era aluno e praticamente assistente do mestre Kobayashi” – recorda o mestre Bastos Nunes. Juntos escreveram o livro ‘De Kyu a Dan’, editado no Japão em 1965, e criaram também a revista ‘Tele-Judo e Karaté-Do’, esta última com a colaboração do mestre Raul Cerveira. Mas, mais importante, foi a forma como a técnica de judo deste japonês – que hoje é um dos quatro mais graduados do Mundo, com o 9º Dan – revolucionou este desporto em Portugal e moldou toda a aprendizagem de Bastos Nunes.

Pelo meio subiu ao pódio das competições: oito vezes campeão nacional – uma vez absoluto e as restantes na categoria de leves; e as vezes em que não foi o melhor, ficou em segundo lugar. “Interessei-me sempre, principalmente, por desenvolver a técnica. Foram 50 anos de convívio com o mestre Kobayashi, mas eu nunca quis ir ao Japão. Todos os anos mando malta para lá, mas eu nunca vou. Não gosto de viajar de avião” – confessa.

Desde o ano a seguir à Revolução dos Cravos que João Carvalho das Neves, professor de Finanças e Controlo de Gestão no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), é aluno do mestre Bastos Nunes. Primeiro em Sintra, depois no Cacém e, agora, na aula das sete da manhã, em Lisboa. “Do ponto de vista técnico, o mestre é uma sumidade“, atesta Carvalho das Neves, 4º Dan no judo. “E, do ponto de vista humano, não tem explicação. Nele estão contidos todos os princípios que o mestre Jigoro Kano [o fundador desta arte marcial] concebeu para os judocas.” Tornaram-se amigos. Cada vez que o professor lança um livro, o mestre está lá a assistir. Até são os dois adeptos do Sporting.

RECEBEU LOUVORES DA POLÍCIA

Bastos Nunes foi professor, primeiro na Guarda Fiscal e depois na GNR, e, também, na PSP, na Escola Prática de Polícia. Foram 37 anos a servir as forças de segurança. Já com muitos louvores, reformou-se aos 70. “Fui obrigado”, remata. É a lei que o obriga. Mas ainda continua a ensinar.

“O trabalho tem sido o equilíbrio da minha vida“, justifica. Até porque o destino se encarregou de fazê-lo perder o seu bem mais precioso: a mulher. Começaram a namorar aos 19 anos – ela tinha 15 – e depois foram viver juntos. “Foi a melhor coisa que eu tive na vida. Uma grande amiga que me deu apoio em tudo.” Há sete anos, enviuvou. Continua a viver em Sintra mas, desde então, passa mais tempo nas Azenhas do Mar, numa casa que tem perto da do filho. Sempre tem a companhia dos três netos.

“Ele não gosta de estar sozinho. Vive bem no meio dos outros” – descreve Fernando Seabra, seu aluno há 30 anos e o mais novo da turma das sete da manhã. Aliás, se durante os treinos reina o silêncio e o respeito, no balneário ouvem-se gritos de euforia. Estão todos entre amigos. “Enquanto treinador, o mestre é universalmente reconhecido pela capacidade técnica ímpar que tem. Tem também o dom de dar todas as suas aulas, a alunos de qualquer idade, sempre com elevada motivação“, conclui Fernando Seabra, que além de jurista é também mestre de judo adaptado a cegos e amblíopes.

Todos os dias Bastos Nunes levanta-se às 04h45. Começa por tomar um primeiro pequeno-almoço em Sintra e, em dias de treino no Judo Clube de Portugal, chega a Lisboa às 06h30.

Gosta de ser sempre o primeiro a chegar aos compromissos. E, por outro lado, tem tempo para fazer esta caminhada ao ritmo dos seus 73 anos.

O almoço é geralmente partilhado com amigos na Adega das Azenhas, nas Azenhas do Mar. Além de dar aulas de judo – também no Judokai (Sintra) –, presta apoio à Divisão do Desporto da Câmara Municipal de Sintra – mas, frisa, é apartidário – e integra a Comissão Nacional de Graduações da Federação Portuguesa de Judo (FPJ).

A verdade é que nunca aplicou, numa situação real, as suas técnicas de judo. Sempre dentro deste espírito, treinou, além dos banqueiros, o escritor José Cardoso Pires, Carlos Andrade (ex-director da TSF), entre médicos – como Miguel Correia, o dermatologista que o operou a um tumor na cara –, advogados e outras pessoas, anónimos empregados de mesa e outros.

A PAIXÃO DA CAÇA

Todos lhe reconhecem a paixão da caça. E todos sabem que também foi pescador. António Lopes Aleixo, presidente da FPJ, é quem normalmente desafia o mestre Bastos Nunes para caçar nas suas reservas alentejanas.

“Sem dúvida que ele tem pontaria. Ainda acerta” – conta Lopes Aleixo. Na semana passada, Bastos Nunes levou para casa uma dezena de coelhos. Não é que o seu forte seja cozinhar, porque normalmente faz as refeições em restaurantes. Mas aprecia um bom prato.

“Foi o meu primeiro mestre. Há perto de 50 anos que o conheço”, diz o presidente da FPJ, para a qual o nome Bastos Nunes representa “uma grande figura do judo nacional”.

São 56 anos dedicados a esta modalidade. “Praticar judo é educar a mente a pensar rápido e com precisão. Bem como o corpo a obedecer com justeza, porque o corpo é uma arma cuja eficiência depende da precisão com que eu uso a inteligência” – explica o mestre Bastos Nunes. A sua vida tem sido inteiramente dedicada a ensinar os princípios desta arte marcial, preservado acima de tudo a relação com os outros. Costuma sempre o mestre dizer: “Sou a pessoa mais rica do Mundo. Tenho muitos amigos”.

MESTRE JAPONÊS KOBAYASHI, O ‘PAI’ DO JUDO EM PORTUGAL

No Verão de 1958, o mestre Ishiro Abe veio a Portugal, para uma demonstração de judo. Com ele vinha o japonês Kiyoshi Kobayashi. Nesse ano, foi fundado o Judo Clube de Portugal, que convidou Kobayashi para ensinar cá. Ele foi o ‘pai’ do judo no nosso País e a seu lado sempre esteve Bastos Nunes. Aos 82 anos, o japonês é 9.º Dan, um dos quatro mais graduados do Mundo.

NOTAS

56 ANOS
■O mestre Bastos Nunes começou a praticar judo em 1954. Nunca parou de o fazer nestes 56 anos.

POLÍCIAS
■Foi professor, primeiro na Guarda Fiscal, depois na GNR e na Escola Prática de Polícia. Foram 37 anos.

CAMPEÃO
■O mestre Bastos Nunes foi oito vezes campeão nacional de judo. Quando não ganhou, foi segundo.

Fonte: cmjornal





O CÓDIGO MORAL DO JUDO

O Código Moral do Judo

Ao conceber o Judo, Jigoro Kano soube, por um lado, recolher a herança, simultaneamente, das técnicas de combate tradicionais do seu país e das preocupações da educação total do indivíduo, nas vertentes física e psíquica, bem como, dos valores cívicos e morais para a cidadania. Por outro lado, soube dar-lhe uma forma adaptada à vida moderna, sem perda de originalidade e sem o abandono do valor das tradições. Desta forma, foi com êxito que “impôs” ao Japão e ao mundo esta nova modalidade. De facto, o Judo atravessou fronteiras, conquistou todos os países, penetrou em todas as culturas, criando uma verdadeira ponte entre os povos.

O Mestre Kano exprimiu os objectivos essenciais da prática do Judo, através dos seguintes postulados:

"melhor emprego da energia"

"prosperidade e benefícios mútuos"

Os valores do domínio individual, de tenacidade no esforço, de cortesia, de igualdade de espírito na vitória e na derrota, que devemos procurar no Dojo, contribuem largamente para desenvolver uma personalidade apreciada por todos, fazendo do Judo uma escola de valores, tão actuais como na época do mestre Kano.

Estas premissas são consubstanciadas num Código Moral, segundo uma lista de valores essenciais que é necessário respeitar e as virtudes que cada Judoca deverá adquirir:

Delicadeza, Coragem, Sinceridade, Auto-Controlo,

Honra, Modéstia, Amizade e Respeito.

A Delicadeza e Cortesia são valores que se impõem desde o início, no jovem Judoca, sob a forma de uma "etiqueta" (conjunto de regras de um cerimonial em prática numa instituição) simples mas rigorosa. É através deste valor que o jovem compreende as implicações das suas atitudes. Na essência, é um conjunto de regras que determinam o comportamento de um grupo social passíveis de compreensão e respeito.

A Coragem dos Heróis é aquela que é obtida fruto de uma acção pontual. No Judo a coragem é de outra ordem: o saber começar sem grandes objectivos, continuar mesmo com resultados pouco animadores (obstinado) e nunca desistir (sem esperança). A coragem passa também por fazer o que é justo e leal.

A Modéstia, falar de si sem orgulho ou vaidade. Exprimir-se com moderação, evitando encarar as vitórias e as medalhas como as únicas referências de sucesso, devendo, pelo contrário, encorajar e elogiar o esforço efectuado, bem como, o progresso individual atingido independentemente dos resultados alcançados.

O Respeito, o respeito pelo próximo, faz nascer a confiança, sem respeito não pode haver verdade.

A Sinceridade, exprimir-se sem pensamentos ocultos.

Auto-Controlo, manter-se calmo, mesmo quando a raiva aumenta.

A Honra, ser fiel à palavra dada, com honestidade.

A Amizade, deve ser privilegiada, é o mais puro dos sentimentos humanos.

O Judo é um ramo de todas estas flores

O Judo é escola da vida, as graduações (Kyus e Dans) permitem-nos medir passo a passo, os nossos próprios progressos nas três componentes do Judo:

O Shin, o Ghi e o Tai

O objectivo dos mestres de Judo não é apenas a formação de campeões ou das técnicas do Judo, mas ajudar os jovens a sentirem-se bem na sua vida quotidiana, a viverem em harmonia no ambiente que os rodeia, a serem cidadãos em pleno.

Em Portugal, o Judo transformou-se num verdadeiro desporto para todos, em que cada um é capaz de encontrar o seu lugar, fazer amigos, progredir, triunfar à sua medida, ganhar prazer, manter ou melhorar a sua condição física, exprimir e desenvolver a sua personalidade, no pleno respeito da personalidade dos outros.

O Judo tem uma identidade própria, com valores, normas e símbolos que o distinguem no quadro da dinâmica cultural de outras modalidades, sendo de facto uma actividade de elevado valor educativo.

É importante que o jovem compreenda que no Judo podem coexistir as duas vias, competição e expressão técnica, que apreciam por meios diferentes o mesmo valor combinado shin-ghi-tai (espírito, técnica e eficácia).

O Shin - Espírito

Desde o início, o professor ensina o praticante a respeitar o cerimonial, a tornar-se mais paciente, atento e concentrado. No Dojo, a cortesia revela-se em ínfimos pormenores, desde a saudação até à entreajuda na aprendizagem, na competição, o respeito pelo adversário, tornam o Judoca leal, reforçando o "espírito desportivo" e o fair play. Este desenvolve a sua "força mental" e a capacidade de superação, através de: saber querer e querer no bom sentido.

O GHI - Técnica

O praticante passa horas a aprender, a repetir, a explorar as subtilezas de um grande número de acções complexas, de ataque e de defesa. Com a ajuda do professor começa a aprender os "princípios". O Judoca apropria os conheci- mentos teóricos e aumenta o repertório técnico/táctico; adquire habilidade e perícia, tornando-se exímio na execução técnica, procurando de forma constante progredir.

O Tai - Eficácia

O resultado do esforço no trabalho e espírito de sacrifício, que o praticante dedica ao Judo proporciona-lhe um corpo vigoroso e de forma harmoniosa. Desenvolvendo as capacidades motoras, possibilita-lhe uma maior eficácia em combate.









segunda-feira, 11 de abril de 2011

Operação Mar Verde

Comandante Alpoim Galvão - Responsável pela Operação

A "Operação Mar Verde", realizada em Novembro de 1970, foi uma das maiores e mais controversas missões executadas pelas Forças Armadas portuguesas nas guerras coloniais (1961-1974). Mas só agora vê rompido o secretismo decorrente da falta de documentação nos arquivos civis e militares oficiais e do seu não reconhecimento pelo Estado.
António Luís Marinho, autor do recém-lançado livro Operação Mar Verde, Um Documento para a História, contou ao DN que o seu trabalho de pesquisa documental confirmou "a tradição de não dar aos arquivos os documentos oficiais" produzidos.

O jornalista (e actual director de informação da RTP) revela pela primeira vez um conjunto de textos oficiais sobre aquela operação. Contudo, "não acredito que haja uma discussão" sobre o assunto porque há "pouca tradição, infelizmente, de discutir" as questões da guerra colonial. "Parece que metemos a cabeça na areia, que há vergonha" de a debater, lamenta o autor.

O livro começou a ser preparado há 11 anos, quando "o entusiasmo" com que Luís Marinho ouvia o comandante Alpoim Calvão falar do ataque por si liderado contra a República da Guiné-Conacry "não [o] deixou indiferente". "Percebi também que estava ali uma história que valeria a pena contar", escreveu o jornalista no prefácio do livro editado pelo Círculo de Leitores.

A importância de contar essa história era tanto maior quanto o marechal António de Spínola (comandante-geral e governador daquela colónia à data dos acontecimentos), assumira perante o Centro de Estudos das Campanhas Africanas (em 1989) que "o processo oficial sobre a "Operação Mar Verde" foi destruído".

Fonte: DN



domingo, 10 de abril de 2011

Pandur II

O ministro da Defesa, Severiano Teixeira, afirmou em Benavente, durante a cerimónia de entrega das primeiras nove viaturas blindadas "Pandur II" ao exército, que se assistia a um "novo ciclo histórico" no reequipamento das Forças Armadas.
O governante recordou que as "Pandur" vão substituir as viaturas "Chaimite", ao serviço do Exército nos últimos 40 anos, e que passaram por teatros operacionais tão distantes como a Guerra de África, Bósnia, e até como símbolo do 25 de Abril.

Depois de destacar a "versatilidade, segurança, capacidade e adaptação" das viaturas blindadas às novas missões do Exército, disse que estes equipamentos são "símbolos do novo espírito" exigido pelas novas missões internacionais das Forças Armadas ao lado dos aliados da UE e da NATO. Severiano Teixeira reiterou que a Lei de Programação Militar (LPM) está em desenvolvimento e que o governo continua "profundamente empenhado" na modernização das Forças Armadas.

O custo total das 260 viaturas ascende a 344,211 milhões de euros, para além de outros 20 milhões de euros em contrato de sobressalentes.

O programa de aquisição destas 260 novas viaturas "Pandur", 20 das quais para a Armada, inscrito na Lei de Programação Militar, tem como finalidade "dotar o Exército e a Marinha de viaturas modernas, com elevada capacidade e versatilidade de emprego operacional e níveis adequados de segurança e protecção".

As novas viaturas aerotransportadas blindadas, para além de modernizarem as Forças Armadas, vão permitir a "racionalização dos meios e uma efectiva capacidade de combate em todo o tipo de missões", de acordo com o ministério da Defesa.

Este tipo de viaturas, em 16 versões diferentes, "habilitam Portugal a participar com os seus aliados em operações conjuntas e combinadas, com meios idênticos em tecnologia e capacidade operacional", sublinhou o governante.

Fonte : Lusa & Forum Defesa