quinta-feira, 9 de junho de 2011

A Operação Georgette

A operação Georgette, é a segunda operação da grande ofensiva alemã de 1918.
A acção, ocorre na sequência da tentativa alemã de quebrar as linhas da Força Expedicionária Britânica no norte de França e no oeste da Bélgica.
Essa tentativa (ver operação Michael) foi cancelada a 5 de Abril, mas a sequência de ofensivas prosseguiu de imediato a 9 de Abril.
A ofensiva alemã contra as forças britânicas, nas quais se encontrava inserido o Corpo Expedicionário Português (CEP), pretendia bloquear o acesso dos britânicos aos portos do Canal da Mancha, tentando assim isolar forças que facilmente pudessem ser aniquiladas por falta de apoio.
O grosso do ataque alemão, ocorrerá sobre o sector considerado mais débil, o sector ocupado por uma das duas divisões portuguesas que se encontravam na frente, fazendo incidir o ataque com mais dureza, na linha de separação entre as forças portuguesas e britânicas, no flanco esquerdo das tropas portuguesas.
A operação foi levada a cabo por dois exércitos alemães.
O principal, o VI exército, comandado por Von Quast, foi especialmente reforçado e era constituído por um total de 16 divisões distribuídas por uma primeira linha de 9 divisões, uma segunda linha com 5 divisões e uma terceira linha com três divisões.
No seu flanco direito, o VI exército alemão teria o apoio de quatro divisões do IV exército.
O ataque das nove divisões na primeira linha do VI exército alemão incide directamente sobre as posições do CEP, Corpo Expedicionário Português, enviado para França, como participação portuguesa na guerra contra a Alemanha.
O ataque ocorre a partir das 04:15 com uma fortíssima preparação de artilharia, à qual a artilharia portuguesa responde, embora esteja perante forças alemãs absolutamente superiores.
A situação na frente, antes do inicio da operação. No sector português, indicam-se os numeros dos batalhões portugueses que se encontravam na primeira linha. Notar que os corpos de exército britânicos tinham 5 ou 6 divisões, enquanto que os corpos de exército alemães tinham três divisões nas primeiras linhas, e uma ou duas divisões de reserva. Os alemães concentraram quatro corpos de exército numa frente de 20km, área que normalmente era defendida por um corpo de exército britânico.
O incessante ataque da artilharia só termina por volta das 08:45, altura em que as forças alemãs avançam sobre as linhas portuguesas e britânicas.
O ataque estende-se de norte, a sul de Armentieres, até ao extremo sul, no flanco direito da defesa portuguesa numa frente de cerca de 20km (a frente portuguesa era de aproximadamente 12km e a britânica de 8 km). O avanço alemão incide com especial violência nas áreas de ligação entre as forças da 2ª Divisão portuguesa e as forças da 40ª Divisão britânica, no flanco esquerdo das forças portuguesas.
Embora oferecendo resistência, os britânicos começam por ceder no sector norte, perante o primeiro ataque alemão por volta das 09:00 da manhã dando azo a um avanço alemão pelo flanco esquerdo das forças portuguesas, que permite envolver as unidades do Corpo Expedicionário Português.
A movimentação das forças do VI exército alemão, em 9 de Abril de 1918.
O mapa mostra a movimentação inicial do VI exército alemão, sob o comando de Von Quast, que atacou o sector de 20km entre Armentieres e um canal a sul de Epinette, que delimitava o flanco direito das forças portuguesas.
O exército de Von Quast, dividia-se em quatro corpos de exército, que tinham na primeira linha três divisões cada um, mais divisões de reserva.
A norte, o II Corpo da Baviera, atacou na direcção de Armentieres, mas chegando ali, parte das forças inflectem para sul, na direcção do sector português.
Segue-se o XIX corpo de exército alemão, que atacou o sector mais fraco, constituído por forças da 40ª divisão britânica, na área de Petillon, onde se efectuava a junção entre as forças britânicas e o flanco esquerdo das tropas portuguesas. São as tropas do XIX corpo de exército que tomam Laventie, que se encontrava no topo da segunda linha de defesa portuguesa. São as divisões do XIX corpo que mais avançam nesse dia.
O ataque frontal, mais directo às forças portuguesas é efectuado pelas divisões do LV corpo de exército, aquele dispunha das melhores tropas do VI exército.
O avanço do LV corpo, até ao rio Lawe, varrerá e envolverá parte das forças portuguesas e será responsável pelo maior numero de baixas, nomeadamente prisioneiros.
A sul, no flanco esquerdo do ataque alemão, estavam as divisões do IV corpo de exército. Estas divisões, atacam a zona de ligação entre o flanco direito das forças portuguesas e as forças britânicas do XI corpo de exército, em Bethune.
Esta força avança relativamente pouco, e é aquela que se debate não só com a resistência dos britânicos, como com a principal resistência das forças portuguesas, que continuam a lutar em La Coture, mesmo depois de cercadas e quando britânicos e portugueses já foram empurrados até às margens do rio Lawe.
A barragem de artilharia de uma dimensão à qual as forças portuguesas nunca tinham assistido, destroçou grande parte da força. A resistência ao avanço das tropas alemãs que se seguiu ao bombardeamento foi quase inexistente, o que permitiu aos alemães avançar com relativamente poucas baixas.
A preparação de artilharia foi portanto muito eficiente, não só contra os portugueses como também contra os britânicos. As forças nas primeiras linhas tinham sido completamente desfeitas, tendo sido desarticulada qualquer capacidade de resistência ao avanço alemão após a barragem de artilharia.
As forças portuguesas eram afectadas por vários problemas, como a não rotação das forças, ou a fraca qualidade dos oficiais portugueses, que não se encontravam na frente, e que com facilidade inventavam razões para se retirarem para tratamentos em Portugal.
Razões de um fracasso
Embora a violenta barragem da artilharia alemã tivesse produzido resultados semelhantes no sector britânico, na verdade tinha-se criado no CEP a ideia de que os oficiais comandantes das forças não eram capazes, o que levou a que ocorressem motins na frente. Os motins não foram no entanto caso único entre os aliados pois já em 1917 eles tinham ocorrido mesmo entre as disciplinadas tropas britânicas e também entre os franceses e mesmo do outro lado das linhas entre as forças alemãs.
Há que referir que houve casos onde os oficiais portugueses se mantiveram no campo de batalha e onde as tropas foram enquadraras e comandadas. Em muitos desses casos o comportamento das tropas portuguesas foi exemplar, tendo havido resistência, mesmo tratando-se de tropas desmoralizadas.
A verdade dos factos no entanto diz que uma vez rompida a linha de frente em vários lugares, restaram apenas alguns focos de resistência portuguesa, sem uma ligação efectiva entre si.
Um grande número de homens rende-se, quando as forças alemãs se apresentam pela sua retaguarda.
Durante o fim da manhã do dia 9, as linhas portuguesas são completamente ultrapassadas pelas forças alemãs, que contavam com uma superioridade numérica superior a 1 para 10 em alguns sectores.
A derrocada das linhas portuguesas, não foi no entanto muito diferente da que tinha ocorrido com os britânicos em 21 de Março, onde durante as primeiras horas após a violenta barragem de artilharia, se renderam 21.000 britânicos.
Parte das forças portuguesas no sector sul (flanco direito) lutam juntamente com as forças britânicas da 50ª divisão, que consegue suster o avanço inglês no flanco direito..
É nesse sector que ocorreram casos isolados de grande bravura de alguns militares portugueses que insistiram em continuar a lutar, mas a sua importância para o resultado da batalha não foi relevante.
O contributo das forças portuguesas não se pode portanto dizer que tenha sido significativo, porque grande parte da força - que tinha recebido ordens para retirar das primeiras linhas nesse mesmo dia – foi completamente dizimada.
O ataque alemão, continuará em vários recontros ou batalhas em que a situação chega a ser desesperada. O comando inglês afirma que as forças estão de costas para a parede e que não lhes testa outra possibilidade que não seja a de resistir ou morrer.
O facto de os britânicos terem aceite ficar sob comando coordenado dos franceses, permitiu aos aliados coordenar de forma mais eficiente as suas forças, com unidades francesas a substituírem as forças britânicas nas primeiras linhas.
Mas para o fracasso desta operação alemã, não contou apenas a forte reacção dos aliados. Contará também entre outros factores a falta de meios motorizados e meios de transporte eficientes para suportar e apoiar o avanço das tropas, o que foi uma constante alemã em toda a guerra.
Outro factor que explica o insucesso, tem a ver com o facto de as forças alemãs embora muito numerosas, serem em grande parte «tropas de trincheira», menos preparadas que as unidades de elite que os alemães tinham utilizado na operação Michael que tinha ocorrido cerca de duas semanas antes.
Além disto, o solo encontrava-se ainda mole, e por isso as posições defensivas dos aliados tinham a vantagem de poder contar com ninhos de metralhadoras que ceifavam alemães à medida que estes avançavam.
O solo mole, constituiu um problema para os alemães, porque para destruir a posição das metralhadoras, era necessário utilizar a artilharia, a qual num terreno irregular, onde muitas das crateras das explosões se encontravam cheias de água não podia avançar.
O avanço alemão acabará por ser detido alguns dias mais tarde, com unidades do exército britânico a serem reforçadas com tropas francesas a sul e belgas a norte.


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