quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

5 - CORPO ATLÂNTICO - POESIA DE HUGO SANTOS

5

Um deus errante atravessou o vale
com suas vagarosas sandálias de silêncio.
Não tinha rosto, nem voz, nem (que se saiba)
o corpo leve e ondulante de alguém
que viesse anunciar prodígios.
Sentou-se numa pedra,
dedilhou seu violino de ventos
e deixou na luz rósea do poente
o rasto transparente de duas mãos
amparando o dia que findava.
Indefeso como a brisa, conta-se,
perdeu-se pelo rumor das sombras
que desciam dos mais altos cedros da colina.
Tinha, sei-o, olhos lúcidos e tranquilos
dum catalogador de naufrágios.

Sem comentários: