sábado, 11 de dezembro de 2010

BALADA PARA ANGRA - JOSÉ DANIEL MACIDE

José Daniel Macide in Crónicas com Flores, 18 de Junho de 1996


É pecado dizê-lo, amor, mas se eu fosse Deus, serias irremediavelmente a minha namorada. Apanharia com doçura a tua mão esguia e os teus dedos breves como madrugadas azuis do nosso silêncio e saberia, então, encostar-me à tua baía de todas as bonanças. Se eu fosse Deus, amor, ia percorrer-te a cada instante nas tuas marginalidades e nos teus epicentros sempre prontos a bulir e acabaria, irremediavelmente pecaminoso, ancorado a uns lábios de um luar saboroso até que o mar acabasse. Amor, se eu fosse Deus, iria ajoelhar-me até ao fim de tudo para te levar, com glória, para um reino que não é deste mundo.
Decerto que endoideci de paixão. Em vez alguma poderei entrançar-me nos teus cabelos longos e lindos e belos, nem adormecer sossegadamente no teu colo de verdura terna. Levou-te o mar para presente dos Oceanos. Eles são valentes e grandiosos, mas não foi isso que tinhamos combinado.

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