sábado, 11 de dezembro de 2010

OS ÚLTIMOS ENGRAIXADORES - CRÓNICA DE JOSÉ DANIEL MACIDE

“Mestre Evaristo e José Cagão serão, porventura, os únicos engraxadores com carteira profissional da nossa praça. Apesar de todas as inovações, engraxar ainda é uma profissão. Evaristo e José, apesar de tudo, são concorrentes. A arte de engraxar tem, contudo, segredos que o cidadão distraído desconhece. O unto, quase sempre, é que dá o brilho final, mas não há modernices que cheguem a uma boa puxadela com uma tira de cotim.
Evaristo e José praticam o mesmo horário. O ofício de engraxar obriga a que comecem e acabam cedo, maneira subtil de cativar a freguesia. A clientela é quem lhes paga e a clientela quer o servicinho a tempo e horas. Custe o que custar, que o brilho às vezes não tem preço. Há-de chegar o dia em que alguém se lembrará deles como figuras decorativas da Praça Velha. Nesse tempo, porém, já não haverá ninguém com caixa aí a polir calçado. Mestre Evaristo e José Cagão, quando abalarem, não deixarão seguidores. Eles são os últimos engraxadores da nossa praça com carteira profissional”.

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